Com 1 milhão de cirurgias eletivas paradas no SUS, gestão planejada e fim do subfinanciamento devem ter prioridade, afirma especialista

Dados do Ministério da Saúde apontam que no Brasil, atualmente, há mais de 1 milhão de procedimentos cirúrgicos eletivos na fila do Sistema Único de Saúde (SUS). Cirurgias eletivas são aquelas que o paciente necessita fazer, mesmo não correndo risco de morte, já que seu quadro clínico pode se agravar, gerando limitações ou sequelas futuras.
 

O estado com a maior fila de espera do País, em número absoluto, é Goiás, com 125 mil operações travadas. Em segundo lugar, aparece São Paulo, com 111 mil e, em terceiro, está o Rio Grande do Sul, com 108 mil.
 

Falta de investimentos e má gestão pública dos recursos disponíveis estão entre as razões para esse cenário. É o que afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem), Raul Canal. Para ele, a situação é alarmante: “há um subfinanciamento do SUS no âmbito nacional e recursos mal direcionados e geridos nas demais instâncias. Isso afeta diretamente o cidadão, que acaba não sendo atendido. Quando o caso não é devidamente tratado, o há uma necessidade muito maior de investimento depois”.

Para que a fila de cirurgias eletivas diminua cerca de 45%, o governo federal lançou, em fevereiro, o PNRF (Programa Nacional de Redução das Filas de Cirurgias Eletivas, Exames Complementares e Consultas Especializadas). No total, o Ministério da Saúde deve repassar, conforme a população estimada, cerca de R$ 600 milhões aos governos estaduais.
 

Para receber o montante, entes federativos tiveram de encaminhar um plano com o número de cirurgias eletivas na fila, a quantidade que poderia ser realizada com o investimento do governo, e as instituições de saúde que fariam as operações. Com o investimento, estima-se que sejam realizadas 487 mil operações no Brasil, reduzindo parcialmente a espera.
 

Levantamento por ente federativo

Quando considerada a população de cada localidade, a fila para cirurgias eletivas nos cinco estados com maior demanda, para cada 100 mil habitantes, é: Goiás (1.747); Pernambuco (1.074); Acre (858); Rio Grande do Norte (772); e Pará (736).
 

Dentre as cirurgias eletivas com maior atraso, a campeã é a cirurgia de catarata (com exceção no estado do Acre), que, de acordo com o Ministério da Saúde, historicamente, é a mais realizada nos programas de cirurgias eletivas no SUS. Hoje, são cerca de 167 mil pacientes aguardando para realizá-la no Brasil.
 

Segundo a presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Dra. Ivete Berkenbrock, o aumento no número de cirurgias de catarata está relacionado ao envelhecimento da população: “apesar de ser uma cirurgia simples, ela ajuda a devolver a qualidade de vida à pessoa, que passa a enxergar muito melhor na maioria das vezes”.
 

Segundo a presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Dra. Ivete Berkenbrock, o aumento no número de cirurgias de catarata está relacionado ao envelhecimento da população: “é um procedimento cirúrgico que, usualmente, evolui muito bem. Uma oportunidade para melhorar a qualidade de vida da pessoa no processo do envelhecimento”.

Na avaliação do presidente da Anadem, é essencial ter este parâmetro do número total de cirurgias eletivas em espera e iniciativas que façam jus ao problema de forma imediata, mas ele reforça a necessidade de ações em longo prazo. “Para que as filas sejam efetivamente controladas, precisamos de uma gestão federal planejada para os próximos anos”, finaliza.
 

Anadem

A Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem) foi criada em 1998. Enquanto entidade que luta pela categoria e seus direitos, promove o debate sobre questões relacionadas ao exercício da medicina, além de realizar análises e propor soluções em todas as áreas de interesse dos associados, especialmente no campo jurídico.

Foto: Adriano Abreu

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